sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

CANAL DA MATERNIDADE NO ACRE: DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO FORAM FEITAS CONTRA PITIMAN E EDMUNDO PINTO


De onde Piestchmann surgiu?
Para um homem que saiu corrido do Acre, falido e suspeito de ter participado da trama para a eliminação de um dos governadores mais populares do Acre, Luiz Carlos Piestchmann prosperou bem – e rápido. Paranaense, sem nenhuma vinculação política, o hoje empresário chegou ao Acre no final dos anos 80, como funcionário do então dublê de político e empresário Zamir José Teixeira, que chegou a ser dono de uma gráfica em Rio Branco e conseguiu ser suplente na chapa do senador Nabor Júnior (PMDB). Dois anos depois, Piestchmann já era dono da “Gráfica Estrela” e, na campanha eleitoral de 1990, seu caminho cruzou com o de Edmundo Pinto, que seria eleito governador.
O dono da Gráfica Estrela, sem maiores vinculações com o Acre e absolutamente desconhecido do meio político local, foi guindado à condição de chefe de Gabinete Civil e operador político do Governo de Edmundo Pinto.
Foi nessa última condição que armou todo o esquema que produziu a licitação milionária para a construção do canal. O esquema foi feito através da Companhia de Saneamento do Acre (Sanacre) e da Companhia de Habitação do Acre (Cohab-Acre), órgãos cujos dirigentes respondiam diretamente à chefia do Gabinete Civil. A licitação para a obra foi feita em meio às denúncias de favorecimento já na confecção do edital cuja concorrência seria vencida pela Construtora Norberto Odebrecht.
Casos de corrupção foram denunciados
A então deputada federal Célia Mendes, esposa do empresário Narciso Mendes, então dono da Construtora Mendes Carlos, que ficou fora da concorrência, era a principal responsável pelas denúncias de corrupção envolvendo o governo de Edmundo Pinto. Piestchmann, especulado como possível candidato a prefeito de Rio Branco nas eleições de 92, era apontado como caixa do esquema de fraude. O presidente da Cohab, engenheiro Wandevan Rodrigues, apareceria morto seis meses depois. Foi abatido a tiros dentro de casa – outro crime tão nebuloso quanto a morte de Edmundo Pinto.
O fato é que, ainda em meio às denúncias de fraudes envolvendo a construção do canal, o então ministro Rogério Magri, do Trabalho, deixou-se gravar admitindo ter recebido propinas na ordem de 30 mil dólares para liberar parte do dinheiro do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que seria utilizado para a realização da obra. Havia, no Acre e em Brasília, suspeitas de que a empresa Norberto Odebrecht, que ganhara a licitação para a obra em meio a diversas denúncias de fraudes, estaria por trás das irregularidades que, enfim, seriam denunciadas por Edmundo Pinto na CPI das Obras. Piestchmann seria demitido por ter levado o governo e o próprio governador Edmundo Pinto a cair na armadilha do lobby e nas quadrilhas que estavam se formando em torno do recém-empossado governo Collor de Mello. Pelas declarações de Pedro Veras sobre a demissão do chefe do gabinete civil, a morte de Edmundo Pinto caiu como uma luva para os interesses de Piescthmann.
“Ele seria demitido no retorno de Edmundo. Isso estava acertado”, diz o comerciante aposentado Pedro Veras, pai do governador assassinado, ao referir-se a Luiz Carlos Piestchmann, o último homem que conversou com Edmundo antes de seu corpo ser crivado com três balas na suíte 715 do Della Volpi Garden Hotel, no centro de São Paulo. Edmundo Pinto, Piestchmann, o engenheiro Gilson Mascarilhas (então diretor da Sanacre), o então presidente da Assembléia Legislativa Ilson Ribeiro e outros assessores do governo deixaram o Acre no dia 14 de maio de 92 para uma série de audiências em Brasília e em São Paulo. Coincidência ou não, o então vice-governador Romildo Magalhães também estava viajando. Com os substitutos da linha sucessória fora do Estado, o governador teve que passar a faixa governamental à desembargadora Miracele Lopes Borges, então presidente do Tribunal de Justiça do Estado.
Edmundo Pinto e comitiva passariam por São Paulo e, no dia seguinte, o governador seguiria para Brasília para depor na extinta CPI das Obras Públicas. Iria falar sobre as denúncias de superfaturamento nas obras do Canal Maternidade, cuja construção estava anunciada pelo governo no valor de US$ 110 milhões.
Um mês antes, ao atender convocação do deputado estadual João Correia, que fazia cerrada oposição a Edmundo Pinto, sobre as denúncias de corrupção, Luiz Carlos Piestchmann deixou escapar, na tribuna da Assembléia, que havia utilizado expediente pouco ortodoxo para obter os recursos para a construção de uma obra que, dez anos depois, o atual governo está executando por apenas 10% do valor inicial estabelecido – R$ 24 milhões.

Postado no Blog do Donny Silva.

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